quarta-feira, 30 de março de 2011

A MENINA QUE AMAVA AS FORMIGAS
Como eu tenho saudades daquela pequenita, tinha 3 anos na altura, e chamava-se
Filipa. Andava ainda um bocado desengonçada, balançando o corpo para um e outro lado. Gostava de ir para o quintal. E lá ia ela, arrastando uma almofada por um dos cantos, instalar-se perto de um qualquer formigueiro e olhar para as formigas. Assim passava horas.
“Porquê Filipa? O que têm de especial as formigas?”
E ela, com a sua voz grossa, muito pausada: “Eu amo as formigas.”
Passaram-se mais de 40 anos e nasceu esta história que dedico aos meus netos filhos da Filipa.

A Menina que amava as formigas,
Com elas queria brincar…
Como fazer? Tão pequeninas,
Tinha receio de as esmagar…

Concentrou-se com atenção,
Fechou os olhos,
Encheu-se de imaginação,
Fez força a valer
E começou a encolher:
Os pés, as mãos,
As pernas, os braços,
E também o coração.
As roupas ajustaram-se,
Até as botas minguaram,
E a Menina agora pequenina,
Do tamanho das amigas,
As formigas,
Correu para o formigueiro,
Seguindo pelo carreiro,
Na esperança de encontrar
Uma amiga com quem brincar!

As primeiras a passar
Não lhe ligaram.
Sempre carregadas,
Na sua labuta iam e vinham
Tão atarefadas,
Nem se dignavam olhar…
A Menina que amava as formigas,
Que as queria ter como amigas,
Pensou, sem desanimar,
Alguma há-de vir
Alguma hei-de encontrar…

Então, a sorrir,
Lá no fundo do carreiro,
Bem perto do formigueiro,
Surgiu a Umbelina,
Uma formiga pequenina!
E a Menina…
Aproximou-se sem hesitar
E disse à formiga:
“És tu de certeza, a amiga.
Anda! Vamos brincar!”

E lá foram, de mão dada,
A correr e a saltar,
As duas encantadas,
A aventura a começar…
“Bom dia, amigas,”
Diziam as outras formigas,
“Olhem a Umbelina,
Traz uma menina,
Deixai-as passar,
Toca a trabalhar”.
E lá foram andando,
Até encontrar
Uma grande migalha
Para transportar…
Força Umbelina,
Agarra Menina,
As duas a empurrar
A migalha a rebolar…
A Menina tropeçou,
A bota resvalou,
Ai que vou cair!
De pernas para o ar,
A rir, a rir,
Lá foram a escorregar…
Menina e formiga,
Bota e migalha,
Tudo pelo ar!

Ninguém se magoou.
À entrada do formigueiro
Foram parar!
As formigas-soldados
Não as deixaram entrar.
“Vão dizer à rainha-mãe:
A minha amiga vem por bem,
Só para a visitar”
Pediu a Umbelina
A choramingar….
Depois de conferenciar
Lá as deixaram entrar!

Tantos túneis, galerias,
Salas e salões,
Cozinhas e berçários,
Celeiros e infantários,
Tudo muito arrumado,
Varrido e bem lavado.
As formigas-obreiras
São tão trabalhadeiras,
Põem tudo a brilhar,
Correm, correm, sem parar.

Lá no fundo do formigueiro,
Numa sala especial,
Num trono deitada,
Com o seu manto real,
A rainha coroada
Punha ovos sem parar
Mais de cem, mais de um milhar!
E as pobres das obreiras
Que não são mães verdadeiras,
Com ternura e carinhos,
As larvas alimentavam
E delas cuidavam,
Dando-lhes mimos e beijinhos.

A Umbelina e a Menina
Fizeram uma vénia à rainha.
E sem se desmanchar
Deram dois passos em frente,
Três para trás devagar…
A rainha sorridente,
Sem parar de desovar,
Botou discurso à altura
Com bonita faladura:
“Tu amas as formigas,
Nós te amamos também,
A nossa casa é tua…
Sempre que queiras… vem!”

Saíram dos aposentos reais.
A Menina que amava as formigas
Ama agora muito mais!

Acabou a aventura,
Mais não há para contar.
A Menina…
Concentrou-se com atenção,
Fechou os olhos,
Encheu-se de imaginação,
Fez força a valer
E começou a crescer…



Avóinha Sãozinha