sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A Rã e a Maçã

Diz a rã para a maçâ:
Gosto de ti, tu és sã,
Podias ser minha irmã!

Responde a maçã, matreira:
Tu vives na ribeira...
Eu, moro na macieira!
Tu andas a saltar...
Eu, cá em cima a vigiar!
Tu coaxas noite e dia...
Que dor de cabeça!... Que arrelia!...
Que queres tu mais?
Somos mesmo desiguais...

Volta a rã a coaxar:
As duas podíamos bailar...
Comer e beber... rir e chorar...

E a maçã, toda doutoral:
Tu és um animal...
E eu? Sou um vegetal!
Eu nasci duma flor!
E tu? Dum girino... que horror!

Quando esta conversa decorria,
Veio uma grande ventania...
O vento cheio de força soprou,
Por entre as árvores rodopiou,
E até a ribeira encrespou!

A rã toda encolhida,
Entre as pedras escondida.
Conseguiu escapar
Para nos poder contar:

A desdita da maçã:
O vento a empurrou,
Para o chão a atirou,
E ela por ali ficou,
A envelhecer...
Até apodrecer...

E a rã chorou.
Não era vingativa.
Teve pena da maçã:
Coitada, tão emproada!
Não lhe valeu de nada!


Serra da Anmoreira, 16 de Julho de 2008

Para a minhas netas, que não são vaidosas,
como a maçã da história


Da Avóinha Sãozinha

Voo da Sofia

Era uma vez uma menina chamada Sofia,
Um dia a menina foi a casa da Tia…
A Tia, chamada Maria, vivia num pombal,
E a Sofia dizia: “Tia, aqui não se está nada mal!”

Quem era, então, a Tia da Sofia? Era uma pombinha,
Que dizia à Sofia, a pipilar: “Minha tontinha,
És uma menina, não tens asas, não sabes voar…
Eu te juro que algum dia te hei- de ensinar…

E a Sofia, que não acreditava, fugia e ria, ria e fugia…
E a Tia, entusiasmada, teimava, teimava… todo o dia!
E a Sofia, sempre a correr, sem os pés do chão tirar,
Dizia: Eu não sei voar… não sei voar… não sei voar…

Certo dia, em casa da Tia, teve fome a Sofia.
Como se alimentar, a menina que não sabia voar?
Comeu sementes: trigo, milho, tudo o que havia…
E passou a piar, a Sofia, tal como fazia a Tia Maria!

E a Tia, sem descansar, com a mesma mania, dizia:
“Tu és capaz de piar, Sofia estás a melhorar!
E por este andar, mais dia menos dia,
P´ra minha alegria, começas a voar!”

Primeiro com cuidado, p´ra se não magoar,
Depois mais depressa, com a ajuda da Tia,
A Sofia saltava e corria… batia palmas no ar!
E um dia, a menina, começou a voar! Viva a Sofia!

Para esta história acabar,
Um segredo vos vou contar:
Foi a Sofia a voar
Quem andou a espalhar
Ovos da Páscoa pelo ar,
P´ra garotada os encontrar!

Para os meus netos na Páscoa de 2008
Avóinha Sãozinha

Mães da Natureza

MÃES DA NATUREZA


I
Mãe vaca dá bezerrinho
E mãe égua cavalinho,
Mãe cabra dá cabritinho,
Qual delas melhor mãe,
Para o mal e para o bem?
Que meninos tão ladinos...
Começam logo a andar,
Vão às mães se aconchegar
P´ra lhes darem de mamar,
E assim os poderem criar.

II
A gata com os seus gatinhos,
A cadela com os cãezinhos,
Como elas são carinhosas!
Às vezes tão amorosas
Que a gata cria o cãozinho
E a cadela o gatinho!

III
Aos passarinhos no ninho
Dão carinhos pai e mãe.
Mas, quando o perigo vem,
Fogem rolas, fogem melros,
E fogem pombas também.
Só as aves de rapina
Não fogem, não, de ninguem,
Correm com os predadores,
Ciosas dos seus amores!
Pelicanos rasgam o peito
Para os alimentar...
Pica-paus e papagaios
Mais tempo os vão cuidar.

IV
Mãe coruja tem corujinhos
Que lindos os os meus filhinhos,
Tão espertos e perfeitinhos,
Diz à águia bem contente,
Se os vires, toma cuidado,
E não lhe metas o dente...

Viu a águia uns coitados,
Bem feios e depenados,
De olhos esbugalhados,
Sem graça, mal amanhados!
Não são da coruja, pensou,
E num instante os papou...
A coruja, triste ficou,
Nunca mais se consolou.
E, chorosa, assim pensou:
Meus corujos, uma beleza,
Águia feia, águia malvada,
Coisa má da natureza...
Amor de Mãe e mais nada!

V
Tartarugas e lagartos,
Rãs e sapos e serpentes,
Põem mil ovos sem fim...
São tantos os descendentes,
Nem os conhecem assim!
Mãe jacaré é excepção:
Trata a o ninho com cuidado,
Ajuda os filhos a nascer,
Depois, adeus... lá se vão...
Lá se vão... até morrer!

VI
Mães humanas!?... Que falar?...
Tanto havia p´ra dizer...
Olhai, filhos, são p´ra amar,
Porque vos deram o ser!

VII
Para toda a criação:
Grandes, velhos, pequeninos,
Bichos mansos e felinos
Dia da Mãe! Que beleza!
São elas que, de certeza,
Os guardam no coração!


Dia da Mãe, 4 de Maio de 2008
Para os meus netos
da
Avóinha Sãozinha

"Contaria"

Um dia a Maria
Resolveu contar...
Contar, contar,
Sem descansar...
Contar noite e dia.
Sempre à porfia,
Sem nunca parar!...

Um – “Pirum”
Dois – Bois
Três - Inglês
Quatro – A sopa está no prato
Cinco – Maria do Brinco
Seis – Maria dos Reis
Sete – Escarrapachete
Oito – Biscoito
Nove – Quem padece é o pobre
Dez – Chega a barriga aos pés
Onze – Cavalo de bronze
Doze – Redoze, vinte e quatro são catorze

Esta lenga-lenga
Já ela sabia,
A Mãe lha contou
Certo dia...
Mas sempre a sonhar,
A Maria
Resolveu inventar
Outra nova “contaria”:

Um – Só este e mais nenhum
Dois – Vem depois
Três – Um de cada vez
Quatro – Perdeu o sapato
ou
Correu atraz do gato
Cinco – Contigo não brinco
Seis – Bem sabeis o que fazeis
Sete – Maria Odete, faz xixi na retrete
Oito – Quem comeu o meu biscoito?
Nove – Mexe, mexe, move, move
Dez – A galinha tem três pés
Onze – Cobre, latão e bronze
Doze – Rosa em francês é “rose”

A Maria gostou
Da sua “contaria”!
E pensou:
Se aos pares eu contar,
Outra rima vou achar,
A brincar!...
Sempre a brincar!...

Dois – Uma junta de bois
Quatro – Dois pares de sapatos
Seis – Três parelhas de reis
Oito – Uma lata de biscoito
(mas só podes comer oito)
Dez – Cinco meninos, quantos pés?
Doze – Seta casais são catorze,
menos um ficam doze

Continuou a contar
A Maria:
Três, seis, nove, doze,...
Nesta “contaria”
Só triplos havia!
Quatro, oito, doze, desasseis,...
Agora eram quádruplos
Que seguiam as leis!
Cinco, dez, quinze, vinte,...
Seis, doze, dezoito,...
Sete, catorze, vinte e um,...
Havia sempre mais algum!

E a Maria, cansada,
Quase sem respirar,
Continuava a contar...
A contar...
Sem nunca acabar!