quarta-feira, 7 de abril de 2010

História do Rato Rateco e da Ratinha Filó

HISTÓRIA DO RATO RATECO E DA RATINHA FILÓ


O Rateco e a Filó vivem em casa da Avóinha, na Serra da Amoreira, debaixo do armário da cozinha. São muito meus amigos.
Quando lá estou sozinha, sem ninguém ver, Dom Rateco e Menina Filó saiem do seu buraquinho e vêm até cá fora. Como são ratos especiais conversam muito e eu trato-os bem. Dou-lhes papinhas: queijo, pão, doces; e também coisas pequeninas para arranjarem a sua casa: trapinhos para cobertores, caixas de fósforos vazias para fazerem a mobília e até um dedal para fazer de lavatório.
A casa deles é muito bonita: tem janelas e cortinas e até jarrinhas com flores.
Nas nossas conversas falamos dos netos da Avóinha. Uns maiores outros mais pequenos, algumas meninas e também rapazes.
E falamos de outros meninos que a Avóinha conhece ou não conhece, que lêm esta história ou a ouvem contar… Os ratinhos queriam muito conhecer todos os meus amigos, mas são tão envergonhados. Quando aparecem meninos que os querem ver, escondem-se sempre debaixo do armário. E os meninos ficam tristes e a Avóinha fica triste e os ratos... cheios de medo!
Por isso, agora, vou tentar ajudá-los a perder a vergonha e o medo. Arranjei umas botas e uma jaqueta para o Rateco e uma saia rodada e um chapelinho para a Menina Filó. Que bonitos eles ficaram! Comprei-lhes uns bilhetes pequeninos para o autocarro e mandei-os passear. Ah, esquecia-me de dizer: Também comprei uma carteira para pôr a tiracolo, para a Filó e um guarda-chuva para o Dom Rateco.
Gostaram muito do passeio que contarei numa próxima história… e prometo-vos, se se portarem bem, mais histórias destes ratinhos tão engraçados, que afinal vivem na imaginação . da Avóinha
Sabem, meninos, estes ratinhos são o segredo da Avóinha e são tão velhinhos que também já eram o segredo da Bisavó e se continuarem a ter vergonha e a não se quererem mostrar, um dia passarão a ser o segredo das vossas Mães, quando os meninos forem grandes e tiverem filhos e as vossas Mães passarem a ser avóinhas.

Serra da Amoreira, 27 de Janeiro de 1996

Maria da Assunção Ferraz de Oliveira

O Passeio do Rato Rateco e da Ratinha Filó

O PASSEIO DO RATO RATECO E DA RATINHA FILÓ

Lembram-se do Rateco e da Filó, aqueles ratinhos simpáticos, amigos da Avóinha, que viviam lá em casa e eram muito envergonhados? Pois foram passear. Não queriam. O medo e a vergonha que fazem com que sempre se escondam, eram mais fortes do que eles, mas tanto teimei que consegui convencê-los.
Saíram os dois de mão dada ou pata dada, mais propriamente, levando na maleta o GPS pequenino que lhes ofereci e uma bela merenda para comerem quando a fome chegasse.
Encontraram uma sombra logo à saída de casa, sentaram-se numa pedrita, pegaram no GPS e toca a planear a viagem: Conversa daqui, conversa de acolá, escolheram o local mais próximo, o Parque do Monteiro-Mor e o Museu do Traje.
Correram pela serra abaixo até à paragem da camioneta. Esta parte da viagem foi fácil, sempre a descer, ninguém os viu e a vergonha… não foi precisa… ficou no saco.
O primeiro problema foi a subida para o autocarro, o degrau era tão alto!
Valeu-lhes uma velhota que subiu devagar: agarraram-se à saia dela e lá foram aos trambolhões até aterrarem debaixo de um banco.
Agora é que são elas! É preciso mostrar os bilhetes ao Sr. Condutor. Vai tu, vou eu… quase se zangaram, mas resolveram ir os dois. O homem, quando os viu em cima da máquina, abriu a boca até às orelhas, arregalou os olhos e ficou sem fala! Os bilhetes eram válidos, só lhes fez sinal que podiam seguir, e a vergonha continuou dentro do saco.
Saíram no Lumiar, deram um pulinho para a rua e depressa chegaram à porta do Museu.
O pessoal foi simpático, deixaram-nos entrar mesmo sem bilhete, (não tinham bilhetes para ratos), mas fizeram-lhes uma recomendação que diziam ser muito importante: É EXPRESSAMENTE PROÍBIDO ROER SEJA O QUE FÔR: TRAJES; TAPESSARIAS, QUALQUER TEXTIL. SE ISSO ACONTECER O RATICIDA ENTRA EM ACÇÃO. Os nossos ratinhos como eram civilizados, claro que não roíam nada. E o raticida? O que era isso? Não sabiam, não se assustaram.
Que bela visita! Havia trajes lindos, do século XVI até aos dias de hoje, trajes de reis de Portugal e da sua Corte, modelos de costureiros famosos e uma grande colecção de trajes regionais.
Os ratinhos estavam encantados, já nem se lembravam da vergonha.
A Filó dizia ao Rateco: Quem me dera poder usar um vestido destes! Olha aquele, de seda verde clara, com mangas tufadas, saia de balão, grande decote e bordado no peito. Que linda eu ficava e como tu havias de ficar orgulhoso da tua ratinha!
Respondia o Rateco: Pois é, mas eu gosto de ti mesmo assim e para mim era complicado ter de usar uma cabeleira como a daqueles senhores…
E a secção dos acessórios: Chapéus, sapatos, malas, botões, óculos, leques, era um nunca acabar de coisas lindas que os encantavam. Podiam ficar ali toda a vida que havia sempre mais e mais coisas para ver!
A merenda no Parque do Monteiro-Mor soube-lhes bem.
Que árvores tão grandes! Aquela araucária que já vem do século XVII fê-los parecer ainda mais pequeninos. E o Lago dos Leões e o dos Cisnes, os peixinhos, os patos e os pássaros em grandes espaços onde não se sentem presos como nas gaiolas! As ruas, as pontes, as grutas, as escadas e os caminhos! Correram, saltaram, brincaram, jogaram às escondidas. Os ratinhos estavam felizes!
Já era quase noite quando foram embora. Tinham-se esquecido das horas, o tempo passou tão depressa!
À saída tiveram uma surpresa: A Avóinha à espera deles.
Foi só dar uma corrida, entrar no carro e, muito bem sentados no banco de trás, com os cintos apertados, não mais se calaram até casa. Contaram tudo, com todos os pormenores!
Gostei de os ouvir. Ao chegar a casa perguntei-lhes se já tinham perdido o medo e a vergonha. Eles, muito cansados, disseram-me, baixinho, ao ouvido: “Medo já não temos, mas a vergonha não a podemos perder, senão tínhamos de deixar de ser o segredo da Avóinha”.

A Ninhada da Ratinha Filó e do Rato Rateco

A NINHADA
DA RATINHA FILÓ E DO RATO RATECO

Que bela surpresa hoje pela manhã! A Filó apareceu à hora do pequeno-almoço e vinha com uma barriga tão grande e tão redondinha! “Está à espera de ratinhos! Está à espera de ratinhos!” exclamou a Avóinha toda entusiasmada. “É verdade” disse a Filó com a sua vozinha aflautada e apareceu logo o Rateco todo importante porque ia ser pai.
Resolvi ajudá-los a preparar o enxoval. Não havia tempo a perder pois as ratas só tem 3 semanas de gravidez!
Quantos ratinhos iriam nascer? Só na hora se saberia. (Porque não há médicos de ratos, nem ecografias, essas coisas só são usadas em ratos de laboratório o que não era o caso dos nossos amigos). Assim fizemos uma dúzia de camisinhas, alguns casacos de malha, toucas para a cabeça e alguns babetes. Ainda pensámos fazer botas, mas era uma trabalheira: cada rato com quatro pés!
Arranjámos um ninho com algodão em rama para a Filó ter os filhos.
Depois fizemos o berço: Que coisa linda: A base era uma cestinha, redonda, pequena, que a Avóinha encontrou no sótão e que antigamente servia para fazer requeijões. Foi toda forrada: por fora com folhos de um tecido às florinhas azuis e cor de rosa (dava para ratos e ratas), por dentro seda branca bem acolchoada com pelo da Filó e do Rateco que eles arrancaram com todo o carinho para os seus “meninos”. De uns bocados de tecido de lã escocesa fizemos os cobertores, e por cima, ainda houve tempo para fazer uma manta de crochet, às rosetas, toda branquinha. Ficou lindo, o berço, e os pais ratos encantados.
Depressa se passaram as três semanas. Numa bela manhã de Primavera apareceu o Rateco, não cabia em si de contente, a anunciar: “Nasceram os ratinhos, esta noite, e são lindos! A Mãe está feliz a dar-lhes de mamar.”
Fui logo vê-los. Pus-me de joelhos no chão e espreitei para debaixo do armário (tão pequeninos, ainda não podiam sair do ninho). Que beleza! Todos cor-de-rosas, de olhos ainda fechados mas já a enroscarem-se, a esticar as pernitas e a chiar: Hi!... Hi!... Hi!...
Eram três meninos e duas meninas! Os pais estavam encantados e a Avóinha também!
“Já temos nomes para eles” disse a Filó, “Joanico, Sarapico, Tico-Tico, Marieta e Carapeta!”
E a Avóinha, entusiasmada, fez logo uma canção para os embalar:

Nana, nana, Sarapico…
Dorme, dorme, Tico-Tico…
Joanico, meu amor,
Olha as manas, por favor:
Não acordes a Carapeta,
Deixa dormir a Marieta,
Ninguém pode chiar…
Quero tudo a descansar…

Nana, nana, Sarapico…
Dorme, dorme, Tico-Tico…

Nana, nana, Marieta…
Dorme, dorme, Carapeta…
Cada qual no seu lugar,
Quero todos a descansar…
Sarapico e Joanico
Não acordem o Tico-Tico,
Assim mesmo enovelada,
Que bela é esta ninhada!

Nana, nana, Marieta…
Dorme, dorme, Carapeta…


Serra da Amoreira, Março de 2010

Para os meus netos mais pequenos
Avóinha Sãozinha