quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Passeio do Rato Rateco e da Ratinha Filó

O PASSEIO DO RATO RATECO E DA RATINHA FILÓ

Lembram-se do Rateco e da Filó, aqueles ratinhos simpáticos, amigos da Avóinha, que viviam lá em casa e eram muito envergonhados? Pois foram passear. Não queriam. O medo e a vergonha que fazem com que sempre se escondam, eram mais fortes do que eles, mas tanto teimei que consegui convencê-los.
Saíram os dois de mão dada ou pata dada, mais propriamente, levando na maleta o GPS pequenino que lhes ofereci e uma bela merenda para comerem quando a fome chegasse.
Encontraram uma sombra logo à saída de casa, sentaram-se numa pedrita, pegaram no GPS e toca a planear a viagem: Conversa daqui, conversa de acolá, escolheram o local mais próximo, o Parque do Monteiro-Mor e o Museu do Traje.
Correram pela serra abaixo até à paragem da camioneta. Esta parte da viagem foi fácil, sempre a descer, ninguém os viu e a vergonha… não foi precisa… ficou no saco.
O primeiro problema foi a subida para o autocarro, o degrau era tão alto!
Valeu-lhes uma velhota que subiu devagar: agarraram-se à saia dela e lá foram aos trambolhões até aterrarem debaixo de um banco.
Agora é que são elas! É preciso mostrar os bilhetes ao Sr. Condutor. Vai tu, vou eu… quase se zangaram, mas resolveram ir os dois. O homem, quando os viu em cima da máquina, abriu a boca até às orelhas, arregalou os olhos e ficou sem fala! Os bilhetes eram válidos, só lhes fez sinal que podiam seguir, e a vergonha continuou dentro do saco.
Saíram no Lumiar, deram um pulinho para a rua e depressa chegaram à porta do Museu.
O pessoal foi simpático, deixaram-nos entrar mesmo sem bilhete, (não tinham bilhetes para ratos), mas fizeram-lhes uma recomendação que diziam ser muito importante: É EXPRESSAMENTE PROÍBIDO ROER SEJA O QUE FÔR: TRAJES; TAPESSARIAS, QUALQUER TEXTIL. SE ISSO ACONTECER O RATICIDA ENTRA EM ACÇÃO. Os nossos ratinhos como eram civilizados, claro que não roíam nada. E o raticida? O que era isso? Não sabiam, não se assustaram.
Que bela visita! Havia trajes lindos, do século XVI até aos dias de hoje, trajes de reis de Portugal e da sua Corte, modelos de costureiros famosos e uma grande colecção de trajes regionais.
Os ratinhos estavam encantados, já nem se lembravam da vergonha.
A Filó dizia ao Rateco: Quem me dera poder usar um vestido destes! Olha aquele, de seda verde clara, com mangas tufadas, saia de balão, grande decote e bordado no peito. Que linda eu ficava e como tu havias de ficar orgulhoso da tua ratinha!
Respondia o Rateco: Pois é, mas eu gosto de ti mesmo assim e para mim era complicado ter de usar uma cabeleira como a daqueles senhores…
E a secção dos acessórios: Chapéus, sapatos, malas, botões, óculos, leques, era um nunca acabar de coisas lindas que os encantavam. Podiam ficar ali toda a vida que havia sempre mais e mais coisas para ver!
A merenda no Parque do Monteiro-Mor soube-lhes bem.
Que árvores tão grandes! Aquela araucária que já vem do século XVII fê-los parecer ainda mais pequeninos. E o Lago dos Leões e o dos Cisnes, os peixinhos, os patos e os pássaros em grandes espaços onde não se sentem presos como nas gaiolas! As ruas, as pontes, as grutas, as escadas e os caminhos! Correram, saltaram, brincaram, jogaram às escondidas. Os ratinhos estavam felizes!
Já era quase noite quando foram embora. Tinham-se esquecido das horas, o tempo passou tão depressa!
À saída tiveram uma surpresa: A Avóinha à espera deles.
Foi só dar uma corrida, entrar no carro e, muito bem sentados no banco de trás, com os cintos apertados, não mais se calaram até casa. Contaram tudo, com todos os pormenores!
Gostei de os ouvir. Ao chegar a casa perguntei-lhes se já tinham perdido o medo e a vergonha. Eles, muito cansados, disseram-me, baixinho, ao ouvido: “Medo já não temos, mas a vergonha não a podemos perder, senão tínhamos de deixar de ser o segredo da Avóinha”.

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